domingo, 12 de dezembro de 2010

Semântica – Significado e Simbolismo das Palavras

Quando se diz que há problema de semântica na conversa do dia a dia, entende-se que há uma falha na comunicação.

No que diz respeito à semântica, não estamos falando exatamente de falha, mas sim de diferentes interpretações. Assim como temos vários tipos de gramática, como a gramática histórica que trata das mudanças das estruturas da língua na linha do tempo, existe também a semântica histórica que, de certa forma, mostra-nos o referencial histórico da mudança de sentido das palavras por meio da história.

Um exemplo? A palavra “pelego” de acordo com o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis: “Pelego (ê) sm.1-Pele de carneiro com a lã, usada sobre a montaria, para amaciar o assento. 2-Reg. (Rio Grande do Sul) Passo errado nas danças gaúchas. 3-Político influente, títere do imperialismo. 4-Alcunha dos que disfarçadamente trabalham contra os interesses dos sindicalizados. P.-branco, Reg. (Rio Grande do Sul): alcunha que os gaúchos habitantes da fronteira dão às pessoas do norte do estado. Pl: pelegos-brancos. P.-de-velha: planta leguminosa (Calliandra tweedii). Dar o pelego ou jogar o pelego, Reg. (Rio Grande do Sul): expor-se a um perigo; arriscar a pele, a vida”.

Ainda há uma gíria recente usada por adolescentes hoje na qual se dá o nome “pelego(a)” àquelas pessoas que fogem do padrão de beleza estabelecido, ou vulgarmente falando, “gente feia”. O termo “pelego” quando utilizado para falar daquelas pessoas que se recusam a participar de greves ou que discordam dos métodos dos sindicatos está diretamente ligada à história do país. No Brasil, podemos dizer que essa palavra está ligada à luta da classe operária, à reivindicação dos direitos trabalhistas, melhores salários, redução de jornada de trabalho, à CLT, etc.

É importante observar que as palavras podem ser completamente manipuladas, modificadas omitidas e/ou distorcidas de acordo com o objetivo do discurso.

As palavras também são simbólicas ou carregam uma associação de símbolos a elas. Ainda que alguém explique exaustivamente que a cruz suástica não teve origem durante o Nazismo, as pessoas, mesmo sabendo que essa palavra sânscrita tenha o significado de “boa sorte” e que, entre outras coisas, ela carregue um significado bom em sua origem, que represente a evolução, etc., a palavra (signo) e o símbolo estão comprometidos com a ignorância da boa parte dos ocidentais. Por essa razão, aqueles que sabem o significado original de símbolos como a suástica, ficam coibidos diante do tabu que se criou sobre eles. Tabus frequentemente são carregados de falta de informação e podem também conter interesses velados de quem os sustenta.

No Japão, a palavra “suicídio” não é tida como um tabu pois os samurais poderiam valer-se desse tipo de morte para redimir-se de algo. Acontece que muitas pessoas adoecem com a rotina de trabalho exaustiva do Japão e acabam morrendo por causa de doenças desencadeadas pelo excesso de trabalho – estresse e depressão, por exemplo. Em 2005, houve aproxidamente 30 mil casos de suícidio. Esses números foram aumentando, desde a década de noventa, com a crise econômica e a instabilidade de emprego. Talvez o tabu esteja oculto no fato de não aceitar os próprios limites e exigir melhores condições de trabalho ou algo que não estresse tanto essas pessoas; certamente que muitos patrões não ficariam nem um pouco satisfeitos em ter que abrir mão de alguns milhões dos tantos que já têm em nome de melhores condições de trabalho e salários.

Há sempre uma comoção “chinfrim” que enaltece mais o sujeito que morreu trabalhando do que o mendigo que morreu de fome e sem trabalho pelas ruas da cidade, como se morrer por vontade própria fosse melhor que perder a vida por força da ocasião; é apenas morte por morte.

O fato é que podemos perceber a manipulação das palavras o tempo todo.
Uma palavra sozinha geralmente é apenas um signo; poucas palavras se autocompletam. Se alguém diz “chove”, sabemos que a chuva está caindo e ponto final, nos basta. Se dissermos apenas “por”, a esmo, não teremos unidade de significado definida porque “por” pode ser infinitivo do verbo “por” ou preposição.

Pensemos ainda em semânticas, significados e manipulação das palavras. Será que estamos falando de oratória? Retórica? Os dois! Porque se oratória, em poucas palavras, é a arte de falar em público, a retórica é a técnica de convencer por meio da oratória. As palavras num discurso, retratam a intenção de quem fala. Cabe ao ouvinte se dar ao trabalho de avaliar a legitimidade do discurso. Ou concordar com tudo e engolir qualquer coisa feito rebanho no pasto!

O fato é que somos acostumados a não prestar atenção o suficiente, por preguiça, por atribulações, pelo excesso de informação. De qualquer forma, ainda podemos acreditar mais no discurso de um cientista e em seus métodos baseados no empirismo e na lógica do que naqueles políticos de sempre, com seus discursos preparados por gente que os provê de técnicas de oratória para falar, falar, falar… e nada dizer!

Pense nesse slogan de campanha: “Sim, nós podemos!”. Isso até lembra o discurso de uma marca famosa de tênis: “Apenas faça!”. Não vamos desmerecer o valor motivacional das palavras na propaganda de um calçado destinado a pessoas que praticam esportes e têm apreço por competir. Por que um político usaria palavras tão vagas em sua campanha? Será por que é impossível honrar promessas de campanha? Podemos usar essas palavras sem qualquer comprometimento. Veja: “Sim, nós podemos mandar soldados ao Oriente Médio.” Ou “Sim, nós podemos ter um sistema de saúde muito bom e digno para toda a população.”?

O fato é que palavras vagas ou omitidas propositalmente podem significar qualquer coisa. Isso é um bom escapismo ou ainda uma boa excusa. São as letras miúdas dos termos dos contratos ou as palavras rebuscadas ou em excesso que enchem as pessoas de problemas e enchem também as consultorias advocatícias. Bom para elas, que gostam de se dar ao trabalho de estudar e conhecer os termos da lei.

Que dizer dos deuses absolutos e suas escrituras? Quanta gente manipulando e distorcendo as tais parábolas bíblicas. Os fundamentalistas são os pastores, e muitos que os seguem confortavelmente, sem questionamentos, são o rebanho. Mas são o rebanho porque seguem a palavra de Deus ou porque se deixam guiar por um pastor? Não importa. Fé cega, seja qual for a religião, é coisa para gente sem inquietudes; quem não tem inquietudes pode também não ter dúvidas, e ter dúvidas pode ser algo indispensável para quem busca alguma iluminação.

No entanto, não sejamos injustos com as licenças poéticas que deixam a vida mais bonita – o exagero, a beleza do conjunto, as metáforas felizes… Na literatura, são permitidos devaneios, enlouquecer de amor, embelezar a tristeza, ter múltiplos sentidos, aliterações; as diversidades de significados são bem-vindas.
 
Na vida real, há quem diga que a arte imita a vida. As palavras nos levam aonde desejamos, permitem–nos adquirir conhecimentos por meio da história da humanidade, ainda que muito tempo já tenha se passado depois dos desenhos nas paredes das cavernas.

Escrito por Simone Fernandes

Fonte: http://www.revistauniversomaconico.com.br/tempo-de-estudos/semantica-%E2%80%93-significado-e-simbolismo-das-palavras/

Edição e Postagem: Fredson Oliveira


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